Adérito Lopes foi hospitalizado após agressão violenta
A noite de terça-feira, 10 de junho, ficou marcada por um episódio de violência que chocou o meio artístico português. Três atores da companhia A Barraca foram agredidos à porta da sala de teatro, localizada em Santos, Lisboa, por um grupo de indivíduos identificados como pertencentes a um movimento neofascista. Um dos agredidos, o ator Adérito Lopes, teve de ser assistido no Hospital de São José, obrigando ao cancelamento da peça programada para essa noite.
Segundo o relato da encenadora e atriz Maria do Céu Guerra, o grupo, composto por cerca de 30 indivíduos, posicionou-se à porta do teatro ao fim da tarde, quando os atores chegavam para a última sessão da peça “O Amor É um Fogo que Arde Sem se Ver…”, integrada nas Celebrações do V Centenário do Nascimento de Camões. Os agressores dirigiram insultos aos artistas e distribuíram panfletos com mensagens como “remigração”, “Portugal aos portuguezes” e “defende o teu sangue” — slogans amplamente associados a movimentos de extrema-direita.
A violência e tensão no local obrigaram à suspensão imediata do espetáculo, cuja lotação de 160 lugares já estava esgotada. A produção lamentou profundamente o incidente, sublinhando que se tratava de uma sessão com entrada livre e destinada a celebrar a herança cultural portuguesa. “Ainda se vai repetir a história do Alcindo Monteiro”, alertou Maria do Céu Guerra, referindo-se ao jovem cabo-verdiano assassinado em 1995 por um grupo neonazi, num dos mais brutais crimes de ódio racial registados em Portugal.
O agressor principal foi detido no local pelas autoridades, e a ambulância chegou rapidamente, prestando assistência a Adérito Lopes. Apesar da resposta célere dos serviços de emergência, o clima de medo e insegurança deixou marcas profundas na companhia e no público. Maria do Céu Guerra reforçou: “Os fascistas e racistas não podem estar misturados com as pessoas de paz”, num apelo claro contra a normalização da violência e da intolerância.
Este episódio reacende o debate sobre a crescente presença de grupos extremistas em espaços públicos e culturais, bem como a necessidade urgente de garantir proteção e liberdade de expressão artística. O ataque A Barraca é mais do que uma agressão física: é um atentado contra a liberdade e os valores democráticos fundamentais. A comunidade cultural e cívica une-se agora em solidariedade com os artistas e exige medidas concretas para prevenir novos episódios de ódio e violência.