Jornalista analisa o impacto do discurso de ódio e levanta questões éticas sobre os limites do humor
Sandra Felgueiras decidiu usar as redes sociais para dar voz à sua opinião sobre um dos temas mais controversos da semana: o processo judicial que opõe a dupla Anjos à humorista Joana Marques. O caso, que levantou acesas discussões sobre os limites da liberdade de expressão e do humor, teve agora um novo capítulo com a intervenção pública da jornalista.
Através de uma publicação no Instagram intitulada “Descubra as semelhanças entre o ódio português e o ódio no mundo”, Sandra teceu uma profunda reflexão sobre os perigos do discurso de ódio, alertando para as suas ramificações, quer em contextos locais como em cenários internacionais.
“A liberdade é o maior legado de qualquer democracia. Mas a liberdade tem limites. E são claros: termina onde começa o ódio”, escreveu, referindo-se não só à polémica nacional mas também à escalada de violência no Médio Oriente. Segundo a jornalista, há uma linha que separa o humor saudável da agressão verbal disfarçada de entretenimento.
Felgueiras traça paralelismos entre o discurso humorístico que considera agressivo e formas extremas de violência simbólica e física: “O terrorismo é o ato de infligir o medo pela inexistência de limites ao ódio indiscriminado sobre civis. […] É o vazio moral”, sublinha, argumentando que, por mais distinta que seja a forma, o impulso que alimenta a violência — verbal ou bélica — é o mesmo: o ódio.
A jornalista foi mais longe e questionou a tolerância seletiva da sociedade:
“É tudo lindo quando não é connosco. Quando o discurso de ódio, travestido de neo-nazi, de ayatollah ou humorista, não nos toca a nós.”
Felgueiras criticou ainda a normalização de determinados comportamentos sob o pretexto da fama ou da condição pública:
“Se a humorista fosse uma criança na escola, estaríamos todos a concordar que ela faz bullying. […] O que muda no caso dos Anjos? Eles não são crianças e são figuras públicas. Esta dupla condição já ditou a vitória de Joana Marques em tribunal.”
A publicação, carregada de significado e de analogias controversas, termina com uma provocação inquietante:
“Imaginem que eu agora diria isto de uma mulher que foi violada porque estava de mini-saia em público? […] Os atos são sempre diferenciados, mas a génese é a mesma: chama-se ódio.”
Sandra Felgueiras não está sozinha neste debate. Desde que o caso foi tornado público, têm sido muitas as vozes a manifestarem-se, seja em defesa da liberdade artística, seja em apelo à responsabilidade ética dos que utilizam o humor como ferramenta de exposição.
O caso Anjos vs Joana Marques continua a dividir opiniões, mas o posicionamento de Sandra Felgueiras veio acrescentar uma nova camada de complexidade ao debate: afinal, onde termina a sátira e começa o abuso? E estaremos todos prontos para rir… quando o alvo somos nós?
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