O filho de Júlia Pinheiro começou por fazer um balanço da sua passagem pela Rádio Comercial e do seu programa «Era o que faltava»: «Fazer um programa de conversas, num horário tradicionalmente próximo do defunto, com protagonistas improváveis na rádio mais ouvida do país. Foram mais de 400 programas. Titubeantes no início, a voar pré-pandemia, tolhidos pelo ar que matava quando o país fechou».
«Conversei com tantas pessoas que queria conhecer. Nada paga isso. Foi o programa que mais gostei de apresentar até hoje, líder há mais de um ano. Um alinhamento cósmico nem sempre possível. Obrigado, comandante Pedro Ribeiro pela coragem, visão e aposta, e – claro, não o fiz sozinho. Nunca se faz nada sozinho. Mesmo que se queira. Na dança, na doçura, na preparação, na sublimação das diferenças, esteve sempre a Ana Martins. Uma espécie de tágide do éter», acrescentou.
O radialista anunciou: «Os timings ditam agora que a terra se rasgue outra vez para dar espaço a novas espécies. A decisão de ir solto para a minha aventura seguinte não foi tomada de ânimo leve porque considero a Comercial uma casa fora de casa. Quantas vezes se pode dizer isto sobre o sítio onde se trabalha? A rádio onde me deixaram ser exactamente quem eu sou. Isso é inestimável. A próxima vida em download é sem estática, sem directos ou podcasts na cloud. Pelo menos para já».
«Depois de vários anos a tentar e a falhar, começo um mestrado em teatro na Bristol’s Old Vic Theatre School. Somos 14. A escola tem 75 anos. Bristol, no Reino Unido, exibe 7 colinas. Como é que isto pode correr mal? De muitas maneiras. Tenho 32 anos e nunca morei fora do meu país. O meu nome, simultaneamente, um escudo e uma lança, não tem qualquer impacto especial numa terra onde se come muito mal. E que bom. O voo começa no final de setembro. E é meio chato porque nos meus braços ainda não cresceram as penas. Também não me lembro da última vez de que tive tanto medo. Tenho tendência a despedir-me e avisar que volto quando termino um programa, um espectáculo ou uma relação, – imaginem o problemático que isso é -, e agora não será diferente», explicou.
«Obrigado a todxs os ouvintes, à rádio mais feliz do país, à equipa maravilha que sempre me recebeu tão bem, e onde aprendi muito sobre os outrxs, e ainda mais sobre mim. Vocês são o Real Madrid da Rádio! Um dia destes volto a campo. Agora deixem-me comer tudo o que conseguir até entrar no avião. Até já ❤️», rematou.