Uma combinação praticamente perfeita de humor, inovação tecnológica e um elenco inesquecível, Quem Tramou Roger Rabbit? ou Who Framed Roger Rabbit no original, deu início para uma era dourada da animação, redefinindo o género no cinema.
O Sucesso
Lançado a 21 de junho de 1988, Quem Tramou Roger Rabbit? tornou-se num marco para a história do cinema, não só pela sua audaciosa fusão entre animação e imagem real, mas, também, por ter transformado a perceção do conceito de “animação” como um género exclusivamente infantil. Num período em que Hollywood produzia poucas animações, esta obra provou que filmes animados podiam ser verdadeiros sucessos de bilheteira e atrair públicos de todas as idades.
A Inovação de Roger Rabbit
Produzido por Steven Spielberg e realizado por Robert Zemeckis, que vinha do sucesso estrondoso de Regresso ao Futuro (Back to The Future, 1985), Quem Tramou Roger Rabbit? apresentou ao mundo um espetáculo técnico nunca antes visto e uma história ousada e que misturava vários elementos e inclusivamente géneros cinematográficos.
Com o argumento a situar-se na Hollywood dourada dos anos 40, combinava o clima de um policial noir com o humor frenético das animações clássicas. No centro da história está Roger Rabbit, um coelho animado, acusado de homicídio e Eddie Valiant, um detetive alcoólico, muito pouco fã de personagens animadas, há que realçar, devido a um incidente na sua vida, interpretado pelo talentoso Bob Hoskins que, relutantemente, tenta provar a sua inocência.
Simultaneamente, temos uma das personagens mais marcantes e eternas da história do cinema, Jessica Rabbit, a sedutora esposa de Roger, cuja frase “I’m not bad. I’m just drawn that way” (“Eu não sou má. Apenas fui desenhada assim”) se tornou igualmente um chavão, ainda hoje utilizado em variadíssimas ocasiões, seja em cinema ou até proferida por qualquer um de nós. Jessica, com o seu visual inspirado nas divas do cinema clássico, quebrou estereótipos, além de barreiras que a animação nunca antes tinha trabalhado desta forma, como por exemplo o poder da sensualidade num “boneco animado”, mostrando que animação podia explorar narrativas mais maduras e complexas.


Uma Obra de Engenharia Cinematográfica
Em 1988, antes da explosão da animação digital, como a conhecemos hoje, criar um filme como Quem Tramou Roger Rabbit? representava um desafio de proporções gigantescas. A integração entre atores reais e personagens animados, além de à primeira vista parecer na altura quase impossível, foi conseguida com uma precisão extraordinária, utilizando efeitos óticos e técnicas mais artesanais, provenientes do género da animação, misturadas com muita criatividade e imaginação. O diretor de animação, Richard Williams, trouxe uma sensibilidade artística, que homenageava tanto a Disney como a Warner Bros., recriando a magia dos desenhos animados clássicos. A colaboração inédita entre estúdios rivais permitiu momentos inesquecíveis, como foi o encontro de Mickey Mouse e Bugs Bunny, algo até então inimaginável.
O Definição de Sucesso num universo e numa Cultura Pop
O sucesso de Quem Tramou Roger Rabbit? foi imediato. Tornou-se o filme mais visto de 1988, arrecadando três Óscares, incluindo o de Melhor Montagem de Som, Melhores Efeitos Visuais e Melhor Montagem, além ainda de um prémio honorário pela sua contribuição pelo género de animação. O seu humor irreverente e a narrativa sofisticada conquistaram audiências de todas as idades, desafiando e eliminando qualquer ideia que ainda persistisse de que filmes animados eram apenas para crianças.
O sucesso do filme estendeu-se para além da “simples” bilheteira. Foi um catalisador para o renascimento da Disney, que nos anos seguintes produziu alguns dos seus maiores sucessos de sempre, como A Pequena Sereia (1989), A Bela e o Monstro (1991) e o magnífico O Rei Leão (1994) que, trinta anos depois, vê estrear a sua sequela, com o título Mufasa: The Lion King (em Dezembro de 2024). Além disso, é inegável a sua profunda influência no surgimento de séries, como The Simpsons (Os Simpsons), provando que a animação podia ser tanto crítica quanto popular.

As Inspirações / As Negociações / A Sequela que Nunca Existiu
A personagem de Jessica Rabbit seria claramente Inspirada nas atrizes Veronica Lake e Rita Hayworth. Jessica acabaria por se tornar uma das figuras mais marcantes da animação, apesar de ter ainda gerado bastante polémica na altura, fosse pela sua caracterização física, pelo seu aspeto de sex symbol associado a um filme de animação ou até pelo carisma que a personagem passava para fora do ecrã. No entanto, Jessica também redefiniu alguns dos limites do que podia ser feito, por exemplo, em filmes animados para adultos.
A Cooperação Entre Estúdios Rivais – Para unir personagens da Disney, Warner Bros., MGM e outros, Steven Spielberg teve que negociar cada segundo en que apareciam no ecrã, garantindo, dessa forma, equilíbrio entre as figuras icónicas e dando importância não só as personagens mas também aos Estúdios que detinham os direitos destas. Na altura, talvez tenha sido uma das maiores e mais prolíferas negociações na história do cinema.
Já naquela altura se pensou numa sequela, um pouco à imagem do que acontece na atualidade. Porém, A Sequela Que Nunca Aconteceu – apesar do sucesso do filme, nunca foi produzida, devido principalmente a divergências entre Spielberg e a Disney, mas também devido à dificuldade de encontrar um guião à altura do êxito do primeiro filme, não caindo na tentação de estragar aquilo que de bom já se tinha feito.

A “Era Dourada” da Animação
Graças ao sucesso de Quem Tramou Roger Rabbit?, o género cinematográfico direcionado para a animação teve o seu ponto de partida, com produções de destaque e cada vez mais tecnicamente avançadas, que persiste até aos dias de hoje. Países como Brasil, Índia e Coreia do Sul começaram a destacar-se na produção de animações de qualidade, enquanto o cinema americano explorava novas fronteiras tecnológicas com estúdios como a Pixar e a DreamWorks. Trinta e cinco anos depois, Quem Tramou Roger Rabbit? permanece como uma das maiores homenagens ao desenho animado, um momento histórico do cinema e um que provou que a ousadia artística pode transformar um género e conquistar corações de várias idades.
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