Se fosse vivo, Pedro Lima teria completado 54 anos neste domingo, 20 de abril…
Para assinalar a data e homenagear um dos atores mais acarinhados pelo público português, o programa ‘Júlia’ dedicou a emissão desta segunda-feira, dia 21, à sua memória. A homenagem contou com depoimentos emocionantes de familiares e amigos, e destacou-se pela presença de Anna Westerlund, companheira de vida de Pedro, que partilhou uma entrevista íntima e profundamente comovente com Júlia Pinheiro.
Durante a conversa, Anna Westerlund fez um retrato sincero e sereno da relação de duas décadas que viveu com o ator. Recordou com carinho o dia em que se conheceram e refletiu sobre o amor, a cumplicidade e os desafios que enfrentaram juntos. Entre esses desafios, destacou-se a luta silenciosa contra a depressão, que viria a marcar tragicamente o destino de Pedro Lima.
“A pandemia terá contribuído, mas foram uma série de fatores. Com a pandemia, criou-se a tempestade perfeita”, confessou Anna, referindo-se ao período particularmente difícil que coincidiu com o início do confinamento.
A ceramista defendeu a importância de olhar para o suicídio como uma consequência da doença mental, e não como uma escolha consciente ou isolada:
“Se a pessoa tem uma doença, que é a depressão, e que pode ter como consequência o suicídio, então há este lado do foco como se tudo fosse uma escolha da pessoa, não. É uma consequência de uma doença. Por isso é que, para mim, faz mais sentido dizer que a pessoa morreu de suicídio”.
Este testemunho surge num momento em que a saúde mental continua a ser um tema cada vez mais debatido em sociedade — ainda que, muitas vezes, envolto em estigmas. A coragem de Anna Westerlund ao abordar o tema de forma tão aberta contribui para quebrar silêncios e dar espaço à compreensão.
Apesar da dor, a força da família revelou-se essencial para seguir em frente.
“Senti-me muito sozinha, mas não me senti desamparada. Senti-me sozinha sem estar sozinha. O amor fica, o que bate são as saudades da pessoa. Nós falamos do Pedro e falamos dele constantemente. É bonito quando percebemos que a pessoa continua presente… Todos os dias falamos do Pedro”, revelou.
Na reta final da entrevista, Júlia Pinheiro lançou uma pergunta que tocou fundo:
“Dos vossos sonhos conjuntos, qual é aquele que é mais difícil de pensar que não se vai concretizar?”
“Se calhar os netos… o sermos avós juntos. O que se perde naquele momento é esse futuro. Não é só o presente, mas é a nossa ideia de futuro. Isso desaparece naquele momento e é preciso reconstruir”, partilhou Anna com honestidade e ternura.
A homenagem no programa ‘Júlia’ não foi apenas uma evocação da vida e carreira de Pedro Lima — foi também uma ode à resiliência, ao amor que permanece e à urgência de falar abertamente sobre saúde mental. Num país que ainda tem tanto por fazer nesta área, conversas como esta fazem a diferença.