“Muita Lôco”: Um marco irreverente da televisão portuguesa dos anos 90
Nos primeiros anos da SIC, vários programas desafiavam as normas da televisão tradicional em Portugal, e “Muita Lôco” foi um dos maiores exemplos dessa irreverência. Exibido entre 1994 e 1995, aos sábados à tarde, este programa era destinado ao público jovem e rapidamente conquistou uma legião de fãs. Com um formato inovador e uma abordagem ousada, marcou o início do conceito de “TV em movimento” no país, muito graças à produção e realização de Ediberto Lima, que mais tarde traria ao ecrã outros clássicos como o “Big Show SIC” e o “Buéréré” com Ana Malhoa.
Uma plataforma para temas controversos
Apresentado por José Figueiras, “Muita Lôco” abordava temas que preocupavam os jovens da época, como as drogas, saúde, preconceitos, ciúmes e métodos anticoncetivos. A cada episódio, o programa trazia convidados que podiam ser tanto especialistas nas áreas em debate como celebridades. Algumas figuras de destaque passaram pelo programa, como Marina Mota, Rogério Samora, Paula Marcelo e José Mussuaili, o primeiro pivot de informação negro em Portugal. Os jovens que compunham a assistência — um público constantemente eufórico e participativo — eram encorajados a interagir, fazendo perguntas e partilhando as suas opiniões, criando um ambiente dinâmico e caótico.
Paulina: A assistente mítica e interventiva
Uma das figuras mais memoráveis do “Muita Lôco” era Paulina, a assistente do programa. Longe dos padrões convencionais de beleza da televisão da época, Paulina era uma mulher orgulhosa das suas formas mais arredondadas, que trazia um novo nível de representatividade ao ecrã. Surgindo em cada programa com um disfarce diferente, foi-se tornando cada vez mais interventiva, ganhando um estatuto quase mítico entre os fãs do programa.

A música como parte integrante
Além dos debates acalorados, o programa tinha uma forte componente musical. A Banda Muita Lôco, liderada por Rodrigo Leal, filho do célebre cantor Roberto Leal, era a banda residente e chegou a editar dois álbuns, que incluíam covers de temas rock e músicas originais onde o próprio José Figueiras mostrava os seus dotes de canto tirolês. Várias bandas nacionais também passaram pelo palco do programa, reforçando a sua ligação com a juventude e a música popular da época.
Uma fórmula inovadora, mas exaustiva
Embora inovador e entusiasmante, o formato de “Muita Lôco” também teve os seus detratores. As câmaras em constante movimento e o público frequentemente histérico criavam um ambiente que podia ser cansativo para alguns espectadores. O Tesourinho dos Gato Fedorento captou bem essa excentricidade, com o seu famoso sketch sobre o estiloso Jorge Rocha, que se tornou um ícone da cultura popular portuguesa.
O legado do “Muita Lôco”
“Muita Lôco” não foi apenas um programa de entretenimento, foi um marco cultural que refletia uma época de mudança na televisão portuguesa. Trazendo temas relevantes para os jovens e quebrando as barreiras do que era tradicional na televisão, lançou as bases para futuros programas que continuariam a desafiar convenções. O seu legado permanece como um dos momentos mais memoráveis da televisão dos anos 90, com uma energia única que ainda hoje é lembrada com carinho e nostalgia.
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