No primeiro grande debate parlamentar do seu mandato, o primeiro-ministro Luís Montenegro reiterou esta terça-feira, 17 de junho, a intenção de manter um “diálogo franco, leal e aberto” com o Partido Socialista, numa resposta direta ao candidato a secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, que quis saber com quem o Governo pretende estabelecer convergências…
Durante o debate do Programa do Governo, Montenegro, líder do PSD, reconheceu que há espaço para convergência com os socialistas, sobretudo em áreas como política externa, política europeia e defesa nacional. Sem fechar a porta a outros partidos, Montenegro sublinhou que a colaboração com o PS tem “responsabilidades históricas” e que será fundamental para a estabilidade política.
“Nós não vamos nunca diminuir o PS nem deixar de fazer um diálogo verdadeiro, genuíno e autêntico”, garantiu o chefe de Governo, perante a atenção da bancada socialista.
José Luís Carneiro: PS como “oposição firme e alternativa”
José Luís Carneiro, ex-ministro da Administração Interna e candidato único à liderança do PS, deixou claro que o Partido Socialista não será o suporte do Governo, mas sim “uma oposição responsável, firme, construtiva e alternativa”. Ainda assim, demonstrou abertura para dialogar em diversas áreas-chave.
Entre os pontos de possível convergência com o Executivo, Carneiro destacou:
- O reconhecimento do Estado da Palestina, no quadro europeu;
- O compromisso com os 2% do PIB em Defesa, incluindo a constituição de um plano industrial militar nacional;
- A segurança interna e proteção civil, com foco na proteção de infraestruturas críticas;
- Reformas estruturais na Justiça e na Administração Pública.
Neste último ponto, desafiou diretamente o primeiro-ministro a “despartidarizar os cargos de chefia da administração pública”, sublinhando a necessidade de modernizar o Estado e garantir serviços públicos de qualidade.
Sinais de aproximação… e cautela
Montenegro, embora reconhecendo diferenças políticas e “mudanças face ao passado”, mostrou-se receptivo à abertura do PS em matérias sensíveis como segurança interna, justiça e reforma do Estado:
“Nós aproveitaremos essa disponibilidade. É importante saber que o PS colaborará na reforma da Justiça, na proteção civil e na reforma das infraestruturas críticas.”
No entanto, o primeiro-ministro deixou uma nota de expectativa:
“Logo veremos se há novos protagonistas e novas forças a demonstrar também esse sentido de responsabilidade. Às vezes temos fundadas dúvidas.”
Conclusão
Com este debate inaugural do Programa do Governo, fica traçado o esboço de um relacionamento institucional marcado por respeito mútuo, mas também vigilância crítica. Montenegro estende a mão ao PS, enquanto Carneiro assegura que o partido estará pronto para colaborar — mas sem abdicar da sua identidade de oposição. A estabilidade política poderá depender, em grande parte, da forma como esta relação evoluir nos próximos meses.