A RTP1 trouxe os maiores êxitos da 7ª Arte para os ecrãs portugueses, todas as quartas-feiras à noite, através da icónica rubrica “Lotação Esgotada”. Entre estreias, clássicos e polémicas, o programa tornou-se uma referência na história da televisão.
Para muitos portugueses, a década de 1980 trouxe mais do que a modernização tecnológica e cultural: trouxe também “Lotação Esgotada”, um dos maiores fenómenos de entretenimento da RTP1. Inaugurada a 15 de outubro de 1986, esta sessão semanal de cinema redefiniu a forma como os filmes eram exibidos na televisão, criando uma verdadeira tradição que marcaria o serão de quarta-feira de inúmeras famílias.
A ideia era simples, mas inovadora para a época: estrear, em televisão, filmes estrangeiros e portugueses que nunca tinham sido exibidos em território nacional. A sessão de estreia não poderia ter sido mais marcante — “A Filha de Ryan”, protagonizado por Sarah Miles, captou a atenção do público e inaugurou uma época de ouro. Desde então, o sucesso foi crescente e tornou-se comum que “Lotação Esgotada” parasse o país, exibindo sucessos como “Serenata à Chuva”, “A Torre do Inferno”, “Os Pássaros” e sagas icónicas como Star Wars e James Bond.
O fenómeno cultural
Transmitida em horário nobre, habitualmente às 21h10, “Lotação Esgotada” era aguardada com ansiedade todas as semanas. A rubrica exibia filmes de todos os géneros, nacionalidades e estilos, democratizando o acesso ao melhor do cinema mundial. A sessão era tão influente que a TV Guia chegou a publicar capas e sugestões para que os telespectadores gravassem os filmes em VHS.
A experiência começava sempre de forma especial: antes do filme, era exibido um episódio dos desenhos animados da Looney Tunes. Para muitos, esta era uma das razões que fazia os mais novos ficarem colados ao ecrã. Clássicos como Bugs Bunny, Daffy Duck, Papa-Léguas e Piu-Piu abriam a noite, antes de darem lugar ao cinema que cativava as gerações mais velhas.
Entre sucessos e polémicas
Apesar do seu impacto positivo, “Lotação Esgotada” não esteve isenta de controvérsias. Em 1994, a exibição de “007 – Os Diamantes São Eternos” e “Instinto Fatal” gerou queixas por parte de telespectadores mais conservadores, que consideravam os filmes inadequados para a rubrica. Contudo, tais polémicas nunca comprometeram o estatuto da sessão como referência cultural.
À medida que a década de 1990 avançava, a concorrência das televisões privadas e a mudança nas grelhas de programação começaram a afetar a audiência da rubrica. Já em 1994, os filmes passaram a ser transmitidos em horários mais tardios e sem a regularidade semanal que outrora definiu o seu sucesso.
O declínio e a memória que perdura
Aos poucos, “Lotação Esgotada” foi perdendo o brilho que tinha nos anos 80 e início dos anos 90. Mesmo assim, manteve-se ativa até 2009, quando passou a ser transmitida apenas de forma esporádica, geralmente aos domingos. Apesar disso, a rubrica nunca perdeu o seu lugar no imaginário coletivo, sendo lembrada como um marco na história da televisão portuguesa.
Com um legado que inclui estreias de grandes sucessos do cinema, momentos de união familiar e até a formação de uma geração de cinéfilos, “Lotação Esgotada” permanece uma referência. Não era apenas uma sessão de filmes — era um acontecimento cultural, capaz de transformar as noites de quarta-feira em experiências inesquecíveis.
Hoje, ainda que os tempos tenham mudado, a nostalgia leva muitos a recordarem as noites em frente ao ecrã, aguardando o início de mais um clássico. Afinal, “Lotação Esgotada” não foi apenas um programa: foi a ponte que trouxe o mundo do cinema para a sala de estar de milhões de portugueses.