Um percurso único de erudição e paixão pela divulgação histórica ao ritmo da narrativa de José Hermano Saraiva, nome que marcou a televisão portuguesa e deixou uma marca inestimável na cultura do país.
Uma Vida Marcada pela História
José Hermano Saraiva, nascido em Leiria a 3 de outubro de 1919, foi uma das figuras mais emblemáticas da televisão portuguesa, especialmente pela sua capacidade de tornar a História de Portugal acessível e apaixonante para várias gerações. Com uma trajetória diversificada que incluiu a advocacia, o ensino, e uma carreira política no período do Estado Novo, Hermano Saraiva deixou uma marca inesquecível na cultura portuguesa.
Formado em Ciências Histórico-Filosóficas e em Ciências Jurídicas pela Universidade de Lisboa, concluiu os estudos em 1941 e 1942, respetivamente. A sua carreira profissional teve início como professor, antes de ingressar na política, onde se destacou como procurador à Câmara Corporativa e ministro da Educação Nacional entre 1968 e 1970. Este cargo, marcado por eventos como a crise académica de 1969, viria a consolidar a sua influência, embora tenha também trazido controvérsias, particularmente no contexto da ditadura.
Uma Voz Inconfundível na Televisão
O que mais destacou José Hermano Saraiva junto do público, foi a sua colaboração com a RTP, que começou em 1971. Os programas Horizontes da Memória, Gente de Paz, O Tempo e a Alma, Histórias que o Tempo Apagou e o icónico A Alma e a Gente, transformaram-no num dos comunicadores mais reconhecidos e queridos. Com uma abordagem teatral e sem recurso a guiões escritos, falava diretamente para o espetador, criando uma conexão quase mágica.
De acordo com o produtor José António Crespo, José Hermano Saraiva conseguia captar o interesse com uma energia cativante, uma memória prodigiosa e uma paixão evidente pelo passado português. As gravações eram feitas de improviso, dependendo apenas da sua vasto conhecimento e presença de palco. Muitos dos seus programas ainda hoje são recordados com carinho, perpetuando o legado deste grande historiador.
Obras Literárias Que Marcaram a História
Para além da televisão, José Hermano Saraiva foi também um prolífico escritor. A sua História Concisa de Portugal, publicada pela primeira vez em 1978, é um dos seus trabalhos mais reconhecidos, contando com milhões de exemplares vendidos e traduções para várias línguas. Escreveu ainda Portugal – Os Últimos 100 Anos, O Tempo e a Alma e muitos outros livros que continuam ainda hoje a ser fontes de consulta e inspiração para estudiosos e curiosos da História de Portugal.
Os Anos de Polémica e a Ligação ao Estado Novo
É um facto que José Hermano Saraiva nunca escondeu o seu fascínio por António de Oliveira Salazar, algo que lhe trouxe tanto admiradores como críticos. Como último ministro da Educação de Salazar e primeiro do governo de Marcelo Caetano, enfrentou momentos desafiantes, como a revolta académica de Coimbra em 1969, que marcou o final do seu cargo ministerial. A relação próxima com o regime, porém, não ofuscou o reconhecimento que recebeu, incluindo a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública e a Grã-Cruz da Ordem do Mérito do Trabalho.
O Amor Pela História Até ao Fim
Mesmo após o fim do Estado Novo e o seu regresso de Brasília, onde serviu como embaixador de Portugal, José Hermano Saraiva dedicou os restantes 40 anos da sua vida à divulgação da História. A sua casa em Palmela, cuidadosamente desenhada por ele, tornou-se um santuário da sua paixão por antiguidade e arquitetura. Foi ali que morreu, a 20 de julho de 2012, aos 92 anos, deixando um passado que continua a iluminar o passado de Portugal.
A História da História
Emocionantes são as palavras do seu sobrinho e diretor do semanário SOL, José António Saraiva, que recorda: “Ele dominava qualquer sala. Tinha uma presença e uma energia que nos fazia querer ouvir cada palavra.” Hermano Saraiva, que encantou e desafiou com a sua visão única da história, continua a ser uma referência incontornável.
“Obras” de José Hermano Saraiva
- Horizontes da Memória – O programa que iniciou a sua carreira televisiva.
- A Alma e a Gente – Talvez o seu projeto mais marcante.
- O Tempo e a Alma – Um mergulho profundo na alma portuguesa.Histórias que o Tempo Apagou – Relatos de histórias menos conhecidas.
- Gente de Paz – Enfatizando figuras que fizeram a diferença.
- História Concisa de Portugal – Um livro clássico de referência.
- Portugal – Os Últimos 100 Anos – Uma análise detalhada do século XX.
- Uma Carta do Infante D. Henrique – Explorando mistérios da navegação.
- Vida Ignorada de Camões – Desvendando a vida do maior poeta português.
- Ditos Portugueses Dignos de Memória – Uma coleção de citações históricas.
- O Tempo e a Alma (livro) – Reflexões filosóficas sobre Portugal.
- Viagens e Destinos Históricos – Relatos de locais históricos.
- Grandes Portugueses – Sobre figuras notáveis.
- Momentos Marcantes de Portugal – Eventos que moldaram o país.
- Mitos e Realidades da História Portuguesa – Desconstruindo mitos.
- Fado e a História de Portugal – O impacto do fado na cultura.
- Portugal na Época dos Descobrimentos – Uma análise da expansão marítima.
- O Património Português – Documentários sobre monumentos nacionais.
- Lendas e Narrativas – Exploração das histórias folclóricas.
- Os Dias de Salazar – O impacto do regime na sociedade portuguesa.
José Hermano Saraiva não foi apenas um comunicador brilhante; foi um verdadeiro embaixador da história e cultura portuguesas. Com o seu inconfundível estilo oratório, ele transformou o ato de narrar o passado numa experiência cativante, aproximando o público de episódios, figuras e mistérios que compõem a identidade nacional. A sua paixão e dedicação tornaram-no uma figura central na televisão portuguesa, criando programas que, mesmo décadas depois, continuam presentes na memória coletiva de várias gerações.
Num tempo em que a informação é frequentemente descartável, o legado que deixou representa um convite a redescobrir as raízes, os valores e a cultura que nos definem enquanto povo. Mais do que um simples historiador ou apresentador, José Hermano Saraiva foi um verdadeiro contador de histórias que acreditava no poder transformador do conhecimento. E, por isso, o seu trabalho permanece uma referência obrigatória para todos aqueles que procuram compreender a história de Portugal, não apenas como uma sequência de datas, mas como uma narrativa rica e viva.
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