Ator fala sobre a realidade difícil da sua juventude…
João Jesus, ator conhecido pelo papel em A Fazenda, da TVI, abriu o coração numa entrevista à TV Guia, onde partilhou detalhes sobre a sua infância no bairro da Amadora. Crescer num local considerado problemático trouxe desafios e reflexões que o acompanham até hoje. Entre rusgas policiais e condições de vida precárias, o ator relatou como esta vivência moldou a sua visão de mundo e o desejo de preservar a história do local.
Segundo João, o bairro onde cresceu está atualmente a desaparecer devido a obras de requalificação. “Há pouco tempo fui lá e as casas estão a ir abaixo porque, pelos vistos, vai lá passar uma estrada”, explicou. Apesar das mudanças, o ator sente necessidade de eternizar as memórias do local e pondera criar um documentário que registre a sua essência. “É importante para mim e para a memória coletiva da Amadora e de Lisboa. Espero que ainda haja esperança para as pessoas que continuam lá a morar”, afirmou.
A infância de João foi marcada por rusgas policiais frequentes, muitas vezes acompanhadas de tensão e medo. Ele contou que, durante essas operações, era obrigado a permanecer em casa com a avó, temendo represálias injustificadas. “No bairro onde cresci, não tenho histórias felizes com rusgas. Toda a gente era tratada como criminosa, independentemente de ser ou não. Se tivesse outra cor de pele, poderia ter corrido muito mal”, desabafou, destacando que a abordagem policial nem sempre era justa ou proporcional.
O ator também explicou como essa realidade o motivou a participar em manifestações, como a organizada pelo movimento Vida Justa após a morte de Odair Moniz, em Lisboa. Para João, a segregação social vivida nos bairros é um problema estrutural que precisa de ser abordado. “Sabemos que os bairros são postos de parte pela sociedade, e mais cedo ou mais tarde há consequências. Parece que só se lembram que existem locais assim quando há tragédias”, afirmou.
João Jesus encerrou a entrevista com uma reflexão sobre a importância de dar voz às comunidades marginalizadas. Ele acredita que a preservação cultural e o diálogo podem ser caminhos para superar preconceitos e criar um futuro mais inclusivo. Com o desejo de imortalizar as memórias do seu bairro, o ator não apenas relembra o passado, mas também luta para que histórias como a sua não sejam esquecidas.