A estreia da telenovela brasileira com Sônia Braga marcou o início de uma nova era televisiva em Portugal, influenciando costumes e gerando uma febre nacional.
Em 1977, Portugal vivia uma época de transição e renovação cultural, e foi neste contexto que a RTP1 trouxe ao público Gabriela, Cravo e Canela, a primeira telenovela brasileira exibida no país. Baseada na obra homónima do consagrado escritor Jorge Amado, a história rapidamente se tornou um fenómeno. A protagonista, interpretada pela deslumbrante Sônia Braga, deu vida a uma personagem que personificava a sensualidade e a independência feminina, cativando milhões de telespectadores e criando um impacto que transcendeu o ecrã.
A história desenrolava-se na cidade de Ilhéus, uma comunidade do nordeste brasileiro dominada pelos poderosos fazendeiros de cacau. Gabriela, uma jovem vinda de uma vida modesta e de espírito livre, apaixona-se por Nacib, um estrangeiro dividido entre o amor e as convenções sociais que o impedem de aceitar a natureza espontânea da amada. Este enredo, inovador para a época, trouxe temas como o poder feminino, a liberdade e a sensualidade, que rapidamente passaram a ser discutidos nos lares portugueses.
O impacto de Gabriela, Cravo e Canela em Portugal foi tanto que chegou a alterar a rotina do país. A Assembleia Nacional chegou a adiar sessões para que os deputados pudessem assistir aos episódios. A telenovela conseguiu reunir públicos de todas as idades e camadas sociais, sendo vista por cerca de quatro milhões de pessoas, uma audiência impressionante considerando a baixa taxa de televisores na altura – cerca de 150 aparelhos por mil habitantes. Estabelecimentos comerciais, cafés e associações tornaram-se pontos de encontro, transformando cada episódio num evento comunitário.
Além do sucesso imediato, a novela deixou um legado cultural profundo. Frases como “moço bonito” e expressões características passaram a integrar o vocabulário popular, e até os poderosos das regiões começaram a ser apelidados de “coronéis”, tal como as personagens da novela. A influência de Gabriela refletiu-se também na moda, com os penteados e vestuário de Sônia Braga a inspirarem mulheres por todo o país.
A estrela da novela, Sônia Braga, tornou-se um ícone e um dos principais símbolos da sensualidade feminina da época. O seu impacto foi tão grande que marcou a carreira da atriz internacionalmente, levando-a a outros projetos de renome. Quatro décadas mais tarde, em 2012, Portugal reviveu a história com um remake protagonizado por Juliana Paes, que, apesar de bem recebido, nunca alcançou a mística e a paixão geradas pela versão original. Essa versão reavivou memórias e apresentou a história a uma nova geração, consolidando a importância de Gabriela na história da televisão e na cultura popular de Portugal.
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