Contra Informação marcou durante anos o horário nobre da televisão em Portugal…
Nos anos 90, a televisão portuguesa viveu em ebulição com o surgimento dos canais privados e foi palco de uma revolução humorística com a estreia de alguns programas que ainda hoje são recordados mas poucos marcaram tanto a actualidade nacional como o “Contra Informação”, um programa que rapidamente se tornou um fenómeno cultural.
Produzido pela RTP, este formato inovador utilizava marionetas para satirizar figuras políticas e sociais, revelando uma visão crítica e mordaz da atualidade. Durante mais de uma década, “Contra Informação” destacou-se como um dos programas mais marcantes da televisão nacional, combinando criatividade, irreverência e inteligência.
A Origem de Contra Informação
Inspirado no programa britânico “Spitting Image”, “Contra Informação” estreou em 1996, numa altura em que o humor político ainda era uma novidade em Portugal. O formato baseava-se na representação de figuras públicas, desde políticos a celebridades, através de marionetas caricaturais. Cada episódio trazia uma análise satírica da atualidade, com um texto repleto de humor ácido e críticas sociais.
A produção ficou a cargo da Mandala Produções/ Produções Fictícias , e a escolha de marionetas foi uma decisão estratégica, permitindo uma liberdade criativa maior do que o uso de atores reais, enquanto preservava o anonimato dos criadores e vozes por detrás das personagens.
As Marionetas e os Ícones Criados
As marionetas eram a alma do programa. Produzidas com um detalhe impressionante, exageravam as características físicas das personalidades que representavam, transformando-as em caricaturas vivas. Políticos como Cavaco Silva, António Guterres e Durão Barroso tornaram-se presenças habituais, assim como figuras internacionais como Bill Clinton e Tony Blair.
Cada marioneta tinha um conjunto de maneirismos e falas características, criando versões satíricas das figuras públicas que rapidamente se tornaram mais famosas do que as próprias personalidades. Por exemplo, a marioneta de António Guterres popularizou o bordão “Sou muito calminho”, enquanto Cavaco Silva era retratado como uma figura rígida e desconectada.
O Humor Satírico e a Atualidade
Uma das grandes forças de “Contra Informação” era a capacidade de reagir rapidamente aos eventos do momento. A equipa de guionistas produzia textos que refletiam a atualidade com uma precisão cirúrgica, criando histórias hilariantes que parodiavam os acontecimentos políticos e sociais mais relevantes da semana.
O programa destacava-se pela forma como conseguia abordar temas sérios com leveza, fazendo o público rir enquanto refletia sobre questões como corrupção, escândalos políticos e decisões controversas. Essa mistura de humor e crítica social foi uma das razões para o seu sucesso duradouro.

A Receção do Público e a Influência Cultural
Desde o início, “Contra Informação” cativou os portugueses. O público rapidamente aderiu ao formato, tornando o programa uma referência obrigatória no final de cada dia. O humor mordaz e as caricaturas bem trabalhadas tornaram-se tema de conversa em cafés, escolas e escritórios, solidificando o impacto do programa na cultura popular.
Além disso, “Contra Informação” influenciou outros programas e humoristas, estabelecendo um novo padrão para a sátira televisiva em Portugal. Muitos dos seus bordões e expressões entraram no vocabulário do dia a dia, perpetuando o impacto do programa para além do pequeno ecrã.
Controvérsias e Reações
Como qualquer programa que desafia o status quo, “Contra Informação” também enfrentou controvérsias. Algumas figuras públicas não apreciavam as caricaturas que o programa fazia delas, considerando-as exageradas ou ofensivas. Contudo, a maioria dos políticos percebia a importância do humor como ferramenta de crítica e aceitava o programa com desportivismo.
Uma das maiores polêmicas ocorreu quando o programa abordou escândalos políticos de forma especialmente incisiva, levando alguns setores da sociedade a acusarem a RTP de parcialidade. Apesar disso, a equipa de “Contra Informação” manteve-se fiel ao seu princípio de parodiar todos os lados do espectro político.
O Fim de Uma Era
“Contra Informação” manteve-se no ar até 2010, encerrando após 14 anos de emissões regulares. O fim do programa foi atribuído a uma combinação de fatores, incluindo mudanças na direção da RTP e o desgaste natural do formato ao longo do tempo. Apesar disso, “Contra Informação” deixou uma marca indelével na televisão portuguesa e permanece na memória de milhões de espectadores.
O final do programa foi amplamente discutido, com muitos lamentando o desaparecimento de uma plataforma tão icónica de crítica social e política. Mesmo assim, as repetições e os vídeos online mantêm viva a essência de “Contra Informação”, permitindo que novas gerações descubram o seu humor único.
Para além disso, o programa ainda voltou algumas vezes, mas não mais sentiu o sucesso e impacto dessa primeira aparição. Em 2013, voltou pela mão da SIC Notícias e Radical e chamava-se “ContraPoder”. Em 2014, tentou um regresso apenas no “mundo digital”, intitulado: “Os Bonecos” e novamente em 2021, agora sob a insígnia “Do Contra,”.
Curiosidades Sobre Contra Informação
- Produção de Marionetas: As marionetas eram feitas por uma equipa de artesãos especializados, que demoravam semanas a criar cada uma. O processo incluía estudos detalhados das expressões e maneirismos das figuras públicas.
- Vozes Versáteis: Os dobadores do programa tinham de interpretar múltiplas personagens, exigindo uma grande versatilidade vocal.
- Internacionalização: Embora fosse um programa nacional, “Contra Informação” também satirizava figuras internacionais, mostrando que o humor transcende fronteiras.
- Momentos Icónicos: Alguns dos momentos mais memoráveis incluem a paródia do “Orçamento de Estado” como um jogo de futebol e as representações hilariantes de cimeiras europeias e o ainda hoje recordado “Bobby, Tareco, busca, busca, mata, mata…”.
O Humor Político na Atualidade
Apesar de já não estar no ar, “Contra Informação” abriu caminho para outros formatos de humor político em Portugal. Programas como “Gato Fedorento” e “Isto é Gozar com Quem Trabalha” seguiram a tradição de abordar temas políticos e sociais de forma crítica e satírica. No entanto, poucos conseguiram atingir o nível de popularidade e impacto cultural de “Contra Informação” dadas as especificidades da época.
A evolução das redes sociais e das plataformas digitais também mudou a forma como o humor político é consumido. Hoje, memes e vídeos curtos desempenham o papel que programas como “Contra Informação” tinham na televisão tradicional, mas a essência de criticar o poder através do humor continua tão relevante como sempre.
Uma Revolução no Humor Televisivo
“Contra Informação” foi mais do que um programa de televisão. Foi uma plataforma de crítica, uma fonte de entretenimento e um reflexo da sociedade portuguesa. O formato inovador, aliado à inteligência dos textos e à qualidade das produções, garantiu que o programa deixasse uma marca inconfundível na história da televisão. Anos depois do seu encerramento, continua a ser recordado com carinho e respeito, como exemplo de como o humor pode informar e fazer pensar, enquanto diverte.
Pode rever muitos dos episódios aqui.
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