Em entrevista ao podcast Geração 90, a jovem comunicadora falou sobre a realidade de conviver com a Trissomia 21 do irmão e a discriminação que ainda persiste na sociedade…
Catarina Maia, uma das vozes mais reconhecidas da rádio portuguesa, foi a mais recente convidada do podcast Geração 90, onde conversou com a atriz Júlia Palha sobre a experiência de crescer ao lado do irmão, Daniel, que tem Trissomia 21. Ao longo da conversa, a comunicadora partilhou uma reflexão profunda sobre como a sociedade trata as pessoas com deficiência, especialmente em relação ao irmão, com quem sempre teve uma relação de grande cumplicidade. Para Catarina, a “deficiência” de Daniel nunca foi um obstáculo, muito pelo contrário, desde sempre o considerou igual a qualquer outra pessoa, sem perceber que havia algo “diferente”.
“Nunca me tinha apercebido sequer que pudesse existir uma deficiência, que pudesse existir algo no meu irmão diferente de mim, só quando fui para a escola é que vi que ele estava a ser discriminado de alguma forma,” revelou Catarina, explicando que foi na escola que começou a perceber como as pessoas viam a deficiência de maneira diferente, e como isso afetava não apenas o seu irmão, mas também a forma como a tratavam por ser sua irmã. Ao longo do tempo, a radialista foi ensinada pela mãe que Daniel aprenderia as coisas como ela, mas com mais calma, um ensinamento que a comunicadora leva até hoje para a sua vida e para a forma como aborda a educação e sensibilização das pessoas.
Hoje, Catarina Maia utiliza a sua experiência para tentar sensibilizar os outros, especialmente aqueles que ainda não compreendem a realidade de quem vive com deficiência. Ela explicou que, em vez de responder com hostilidade a quem faz comentários negativos, prefere explicar as razões pelas quais a discriminação não é aceitável, abordando a situação de uma maneira calma e construtiva. “Acho que vai ser muito mais produtivo para a pessoa e, para mim, se eu tentar sentar-me com ela, explicar-lhe o porquê das coisas serem assim… e tenho tido a sorte de me ouvirem, já consegui ter boas conversas sobre isso,” compartilhou a comunicadora.
Apesar de sua postura positiva e educadora, Catarina confessou que ainda lida com sentimentos de revolta ao ver como a sociedade trata as pessoas com deficiência. “Ainda não consigo bem lidar com a revolta que às vezes, por mim se assombra, de vivermos numa sociedade que não aceita a deficiência ou que muitas vezes discrimina,” admitiu, revelando que está a trabalhar esses sentimentos em terapia. Essa reflexão demonstra o impacto emocional que a discriminação pode ter em quem convive com pessoas com deficiência e como é difícil, mesmo para quem está habituado a essa realidade, aceitar que a sociedade ainda tenha tanto preconceito.
Durante a conversa, Catarina Maia também falou sobre as dificuldades que seu irmão, Daniel, enfrentou no mercado de trabalho. O irmão completou um curso profissional de restauração e bar, mas, apesar de obter boas notas e estagiar em vários restaurantes, nunca teve a oportunidade de conseguir um emprego. Catarina destacou que, após o término de um estágio, muitas vezes as pessoas com deficiência acabam sendo dispensadas, uma situação que Daniel enfrentou durante dois anos de desemprego. “As coisas não são feitas no processo natural que, por norma, uma pessoa sem deficiência tem acesso,” explicou, acrescentando que, embora existam alguns apoios do Estado para a empregabilidade de pessoas com deficiência, muitas vezes isso não é suficiente para garantir uma colocação estável no mercado de trabalho.
A comunicadora acredita que a falta de oportunidades para pessoas com deficiência é resultado do preconceito, o que leva a uma exclusão silenciosa, onde as qualidades e competências das pessoas não são devidamente reconhecidas. “A deficiência não define alguém, o que te vai definir é a tua personalidade e aquilo que tu acreditas e transmites à sociedade em geral,” afirmou, frisando que todos merecem as mesmas oportunidades, independentemente de terem ou não alguma deficiência. Para ela, é essencial que as entidades empregadoras adotem uma postura mais inclusiva, oferecendo oportunidades reais e concretas para que as pessoas com deficiência possam demonstrar o seu potencial.
Com essas palavras, Catarina Maia reforça a importância de quebrar barreiras e preconceitos, defendendo que todos, independentemente das suas limitações físicas ou mentais, têm algo valioso a oferecer à sociedade.