Bruna Gomes está sempre muito ativa nas redes sociais, e ontem levantou um tema horroroso que se passa no Brasil, na Ilha do Marajó, mas que pouco é falado. Esse mesmo tema ja foi também denunciado por Juliette, cantora que fez agora uma música com David Carreira.
A influencer fez um tweet na sua conta, onde revela: “Depois de assistir e pesquisar mais sobre o que acontece na Ilha de Marajó me encontro dilacerada.“, acrescentando de seguida: “Meu Deus que tristeza absurda o que acontece com as crianças lá, pq a mídia não está em cima disso??????????????“
Onde fica a Ilha do Marajó?
A Ilha do Marajó, inicialmente conhecida como Marinatambal, é uma ilha costeira de natureza fluviomarítima localizada na Área de Proteção Ambiental do arquipélago do Marajó, no estado do Pará, região norte do Brasil.
Reconhecida como a maior ilha fluviomarítima do mundo, a Ilha do Marajó é separada do continente pelo delta do Amazonas, pelo complexo estuário do rio Pará e pela baía do Marajó.
Com uma extensão territorial de 40.100 km², é a maior ilha costeira do Brasil e a maior ilha fluviomarítima global, sendo banhada pelo rio Amazonas a oeste e noroeste, pelo oceano Atlântico ao norte e nordeste, pela baía do Marajó a leste e sudeste, e pelos canais distributários do rio Tocantins e do rio Pará ao sul.
O que se passa na Ilha do Marajó?
O caso de exploração sexual infantil na Ilha do Marajó, no Pará, tem gerado grande comoção nas redes sociais e na opinião pública, porém, trata-se de um problema antigo no Brasil. A cronologia dos eventos na Ilha do Marajó remonta aos anos 2000, revelando uma triste realidade que perdura ao longo dos anos.
Em 2006, surgiram as primeiras acusações documentadas de exploração infantil na região, com a abertura de um inquérito pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. Os documentos da época apontavam o envolvimento de políticos locais no tráfico de meninas da Ilha do Marajó para prostituição em Belém e na Guiana Francesa.
Em 2010, os abusos que ocorriam na Ilha do Marajó foram objeto de discussão em comissões locais. Isso levou o Senado a conduzir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para abordar o assunto.
A CPI analisou dezenas de denúncias de casos de violência sexual contra crianças e adolescentes no arquipélago. Alguns parlamentares mencionaram o caso do ex-deputado Luiz Afonso Sefer, acusado de adotar uma criança de 9 anos e agredi-la sexualmente. Anos mais tarde, Sefer foi condenado a 20 anos de prisão por estupro de vulnerável.
O Senado também abordou a “rota da exploração sexual da região“. Esta abrangia os municípios de Gurupá, São Sebastião da Boa Vista, Breves, Curralinho, Muaná e Portel. Essa “rota” referia-se às embarcações que transitavam pela Ilha do Marajó com destino a Manaus, onde ocorria a exploração sexual de crianças.
Em 2017, a Record TV realizou uma reportagem sobre a exploração infantil na Ilha do Marajó. A reportagem mostrou a situação de extrema pobreza na região, apontada como motivo para que crianças e adolescentes se submetessem à exploração sexual. Em troca dos abusos, os menores recebiam dinheiro, comida ou até mesmo gasóleo.
O gasóleo é conhecido como “ouro negro” na Ilha do Marajó, devido ao seu valor altíssimo na região. Um vídeo na reportagem mostrava cinco meninas perseguindo um barco cheio de camiões. Segundo a investigação, os camionistas oferecem dinheiro e bens em troca de favores sexuais.
O tema voltou a surgir em 8 de outubro de 2022, durante as últuimas eleições no Brasil. Na altura, a então ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, abordou a questão da Ilha do Marajó durante um culto evangélico. Damares Alves revelou os dentes eram arrancados de crianças na ilha para facilitar o sexo oral, e que também seriam alimentadas com comida pastosa para facilitar o sexo anal.
No entanto, por ter falado de Jair Bolsonaro, então Presidente da República e candidato à reeleição, o seu discurso foi interpretado como uma tentativa de apoiar Bolsonaro nas eleições de 2022. “Bolsonaro disse: ‘nós vamos atrás de todas elas’, e o inferno se levantou contra este homem”, declarou Damares.
Essa situação levou o Ministério Público Federal a entrar com uma ação civil pública contra Damares Alves. De acordo com a ação, a ex-ministra e a União deveria indemnizar a população do Arquipélago do Marajó (PA) em R$5 milhões por danos sociais e morais, montante que seria destinado a projetos sociais na região.
A ação não apenas argumentou que a ex-ministra tinha causado danos aos residentes da Ilha do Marajó com informações falsas, mas também destacou que a declaração serviu como plataforma política em apoio a Bolsonaro.
No entanto, mesmo após a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022, Damares Alves continuou a abordar a questão da Ilha do Marajó. Em 26 de setembro de 2023, a senadora pronunciou-se sobre o tráfico de crianças na região.
Damares Alves revelou ter recebido mensagens de residentes locais denunciando o desaparecimento de uma criança de dois anos na cidade de Anajás, em 19 do mesmo mês. Ela afirmou que havia indícios de que a menina era vítima de tráfico infantil.
A senadora também apresentou dados da ONU e do Conselho Federal de Medicina sobre o assunto. Segundo esses organismos, cerca de 50 mil casos de tráfico infantil ocorreram entre 2019 e setembro de 2023. Além disso, foram registrados 42 mil desaparecimentos no primeiro semestre de 2023.
Damares encerrou o seu discursoa dizer que iria apresentar um requerimento pedindo que os senadores visitassem a Ilha do Marajó. O objetivo da visita seria avaliar o programa de combate à exploração sexual de crianças e adolescentes do governo Lula. “Queremos saber como está o progresso desse programa, como está a proteção das crianças na Ilha do Marajó“, afirmou Damares.
O assunto arrefeceu até recentemente ter aparecido a música “Evangelho de Fariseus”. Aymeê Rocha, cantora e compositora da canção, apresentou-a no reality show gospel “Dom Reality” a 16 de fevereiro de 2024.
Entre outros temas, a música aborda as explorações sexuais de crianças que ocorrem na Ilha do Marajó. “Enquanto isso, no Marajó, o João desapareceu esperando os ceifeiros da Grande Seara“, cantou Aymeê Rocha. No fim da música, a paraense revelou que crianças na Ilha do Marajó chegam a se prostituir por apenas R$5 (menos de 1€) para turistas.
Dias após a apresentação no “Dom Reality”, Aymeê Rocha revelou nas suas redes sociais que sentiu um chamado de Deus para compor a música. “Lembro-me do nascimento de ‘Evangelho de Fariseus’, eu jogada no chão do meu banheiro, chorando vidas por horas a fio. Um choro amargo”, escreveu.
Mas a visibilidade que Aymeê trouxe sobre este caso foi acompanhada de críticas. Um exemplo disso foi o pastor Ciro Sanches Zibordi, que chamou a canção de “apenas uma crítica generalizada“.
Zibordi afirmou que a música de Aymeê colocava “tudo no mesmo saco“, o que poderia comprometer a imagem da Igreja no Brasil. Além disso, o pastor acredita que a frase “o reino virou negócio” da música “Evangelho de Fariseus” poderia dissuadir fiéis de contribuir com dízimos, afetando o sustento das comunidades cristãs.
No entanto, várias personalidades saíram em defesa das crianças da Ilha do Marajó. Uma delas foi Juliette, ex-participante do BBB e cantora que fez agora dupla com David Carreira, que publicou sobre o assunto no X, antiga plataforma Twitter. “Marajó tem o menor Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil e há um grande esquema de tráfico humano e prostituição infantil na ilha“, publicou. “Nós clamamos por ações e respostas aos políticos, autoridades e órgãos públicos“.
Depois de assistir e pesquisar mais sobre o que acontece na Ilha de Marajó me encontro dilacerada. Meu Deus que tristeza absurda o que acontece com as crianças lá, pq a mídia não está em cima disso??????????????
— Bruna Gomes (@brunapgo) February 21, 2024
VOCÊS SABEM O QUE ACONTECE NA ILHA DE MARAJÓ? TRÁFICO HUMANO E PROSTITUIÇÃO INFANTIL ?
— Juliette (@juliette) February 22, 2024
Marajó tem o menor Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil e há um grande esquema de tráfico humano e prostituição infantil na ilha… pic.twitter.com/KeJZoHGBsu