O debate do Programa do Governo, esta terça-feira, 17 de junho, na Assembleia da República, ficou marcado por trocas acesas entre André Ventura e Luís Montenegro, com o líder do Chega a acusar frontalmente PS e PSD de um “conluio para destruir a democracia”…
Em resposta, o primeiro-ministro rejeitou a visão catastrofista de Ventura e lançou uma farpa certeira: “Espero que o senhor deputado não queira regressar à inércia, ao imobilismo e ao atraso do tempo da ditadura.”
Ventura aponta dedo ao “bloco central” e pede fim do passado
No seu discurso, André Ventura começou por saudar a vitória eleitoral de Luís Montenegro, mas rapidamente passou ao ataque:
“A maior inércia e obstáculo dos últimos 50 anos foi o conluio entre o PS e o PSD para destruírem a nossa democracia.”
Ventura fez questão de sublinhar o novo quadro político, onde o Chega se afirma como segunda maior força parlamentar, e exigiu “reformas a sério” que não fiquem reféns do que apelidou de “velha política”.
Relembrou ainda os resultados das últimas legislativas:
“O Chega aumentou 268 mil votos. A AD aumentou 141 mil. O PS perdeu 370 mil.”
Saúde em destaque e críticas à ministra reconduzida
O líder do Chega centrou parte do seu discurso na saúde, criticando o Governo por manter no cargo a ministra Ana Paula Martins.
“Tivemos 14 urgências encerradas no último fim de semana. O que é isto senão uma desgraça?”, questionou, ironizando a continuidade da governante: “Funcionou tão bem no último ano, não é?”
E deixou o aviso:
“Ou o Governo muda na saúde, ou não o toleraremos por muito tempo.”
Montenegro reage: “Não confunda frustrações com conquistas”
A resposta de Luís Montenegro não tardou. O primeiro-ministro rejeitou as acusações de conluio e aproveitou para fazer um apelo à memória coletiva:
“Espero que o senhor deputado não confunda as frustrações acumuladas com as grandes conquistas que Portugal alcançou nos últimos 50 anos face ao atraso dos 50 anos anteriores.”
Com uma indireta à tentação de Ventura em reescrever o passado, Montenegro afirmou:
“Não estou a ver que o senhor deputado queira regressar a esse tempo. Espero sinceramente, e acho que os portugueses também esperam.”
Sobre a saúde, reconheceu que há falhas, mas apelou à responsabilidade:
“Em 2025, os encerramentos de urgências são cerca de metade dos de 2024. Estamos a recuperar, com mais investimento e mais recursos humanos. Não se pode ignorar isso.”
Clima político aceso e novo equilíbrio parlamentar
Luís Montenegro terminou por reconhecer o crescimento do Chega, mas também sublinhou:
“O suporte parlamentar do Governo aumentou e a diferença entre a primeira e a segunda força política também.”
O confronto entre os dois líderes revelou bem o novo equilíbrio de forças na Assembleia da República, com o Chega a exigir protagonismo, mas também a ser travado por um primeiro-ministro que promete diálogo com responsabilidade, sem recuar nos princípios democráticos.
A sessão revelou que a legislatura está apenas a começar — mas o tom promete ser tudo menos morno.