No decorrer da Jornada Mundial da Juventude que decorreu na passada semana em Portugal houve um comentário feito por um jovem ao ser entrevistado pela SIC Notícias.
Manuel Luís Goucha abordou este assunto no seu instagram referindo:
“Ouvir um jovem em plena Jornada Mundial da Juventude, e não importa o local, quando interpelado por uma jornalista da SIC e a propósito dos abusos sexuais no seio da Igreja, aliás uma das páginas mais negras da história da Igreja Católica, ouvir um jovem dizer que as crianças muitas vezes é que se metem a jeito para serem abusadas é algo que me deixa muito perturbado e me causa verdadeiro nojo”.
“As crianças metem-se a jeito? Então as crianças é que se metem debaixo dos padres para serem tocadas, apalpadas, abusadas, violentadas. Então a culpa é das crianças e não dos abusadores, neste caso, padres? Mas nós sabemos que os abusos sexuais de menores ocorrem minoritariamente no seio da família ou nas proximidades da família. Portanto, as crianças é que são as culpadas e não pais, tios, avós, vizinhos, amigos da família?”
“A culpa, o ônus da culpa recai sobre as vítimas? As crianças metem-se a jeito? Estamos a falar de crianças que na maior parte das vezes nem sabem o que é sexualidade. Por isso eu acho que é importante falar-se de sexualidade no seio da família. Por isso eu acho também, adaptando claro a linguagem à idade da criança, por isso eu acho também que a sexualidade tem que ser abordada nas escolas, como medida de prevenção para que cedo as crianças percebam o que é certo, o que é errado e se possam defender das armadilhas, dos perigos que se escondem, que estão à espreita, muitas vezes em sítios que nós achávamos que seriam sítios seguros, como é, deveria ser a família”.
“As crianças, quando abusadas, quando violentadas, sentir-se-ão perdidas, confusas, sentir-se-ão enojadas, revoltadas, vão calar o sofrimento durante anos, como aliás nós sabemos, por relatos que só agora conhecemos, passam a viver num mundo mais de morte do que de vida”.
“As crianças metem-se a jeito? Mesmo que seja uma criança mais velha, já sabedora, mesmo que ela se insinua perante um adulto, cabe ao adulto, e não à criança, cabe ao adulto castigar os possíveis impulsos que tenha, porque são impulsos criminosos, porque está perante o menor”.
“Eu também me pergunto, o que é que levou um jovem a pensar desta maneira? Que estará por detrás deste pensamento tão absurdo? E que adulto virá a ser este jovem? Também é perturbador pensar que este jovem não é único, haverá muitos outros jovens a pensar de igual forma. Que adultos virão a ser estes jovens? Alguns, possivelmente, abusadores. Possivelmente serão homens que quando veem uma mulher de mini saia vão dizer “está mesmo a pedi-las”. Eu disse “homens?” Não. Jovens a pensar desta maneira, a continuarem a pensar desta maneira, nunca serão homens. Não passarão de homúnculos. E cuidado com eles”