Figura lendária do pós-punk norte-americano deixa legado influente e inimitável
David Thomas, vocalista e mente criativa por trás da banda Pere Ubu, faleceu aos 71 anos, na passada quarta-feira (17), em Brighton & Hove, no Reino Unido. A notícia foi confirmada na conta oficial da banda no Facebook. Segundo o comunicado, o músico estava ao lado da mulher e da enteada mais nova no momento da morte. No rádio, ouvia-se MC5.
Fundador e único membro constante da icónica banda de pós-punk formada em Cleveland, Ohio, em 1975, Thomas marcou o cenário musical alternativo com a sua voz singular, letras absurdas e música dissonante que desafiaram convenções e resistiram ao tempo.
Apesar das limitações de saúde que o acompanhavam desde pelo menos 2017, David Thomas manteve-se ativo até ao fim. Segundo o comunicado, estava a trabalhar num novo álbum com a banda — o último que sabia que iria gravar. Pediu ainda que os concertos da banda continuassem a ser catalogados no Bandcamp, onde os bootlegs de Pere Ubu têm sido meticulosamente guardados.
O músico, nascido em Miami e criado em Cleveland, escolheu viver os últimos anos da sua vida em Brighton. Mas, de acordo com a vontade expressa antes de morrer, será levado de volta à sua quinta na Pensilvânia. O seu desejo? “Ser atirado para o celeiro”.
Os Pere Ubu, cujo nome homenageia a peça vanguardista Ubu Roi de Alfred Jarry, tornaram-se uma referência cult para gerações de músicos e críticos. O seu disco de estreia, The Modern Dance (1978), embora não um sucesso comercial, é hoje visto como um marco fundamental do rock experimental.
David Thomas estava também a finalizar a sua autobiografia, descrita como “quase completa” no comunicado. Espera-se que venha a ser publicada postumamente.
Mais do que uma carreira, David Thomas construiu um universo. Como escreveu o crítico Greil Marcus: “A música dos Pere Ubu entra num comboio que atravessa uma nação moderna como se fosse uma terra antiga, de ruínas, profecias e decomposição.”



