O corpo celeste vindo de outro sistema solar começou a libertar água a uma distância em que tal seria impossível. A NASA e astrónomos de todo o mundo tentam decifrar o comportamento anómalo deste cometa “impossível”, que continua a intrigar a comunidade científica
O cometa 3I/ATLAS, um viajante vindo de outro sistema solar, está a deixar os cientistas de todo o mundo em verdadeiro sobressalto. Desde que foi detetado pela primeira vez no início de julho, o objeto cósmico tem surpreendido a comunidade astronómica com comportamentos que desafiam tudo o que se sabe sobre os cometas tradicionais. A mais recente revelação veio através do telescópio Swift da NASA, que observou o 3I/ATLAS a libertar cerca de 40 quilos de água por segundo em forma de vapor — algo considerado fisicamente impossível à distância a que se encontra, cerca de três vezes a distância entre a Terra e o Sol.
De acordo com os especialistas, os cometas são geralmente compostos por gelo, poeira e rocha, e só libertam vapor de água quando se aproximam significativamente do Sol, devido ao calor extremo. No entanto, o 3I/ATLAS parece ter ativado este processo muito antes do esperado, o que levou os investigadores a classificar o fenómeno como “inexplicável”. O enigma adensa-se com outros dados surpreendentes: o cometa tem 5,6 quilómetros de diâmetro, pesa 33 mil milhões de toneladas e desloca-se a uma velocidade de 220 mil km/h. Além disso, possui oito vezes mais dióxido de carbono do que água, liberta níquel em estado gasoso e apresenta ausência total de ferro, dois elementos que normalmente surgem juntos na natureza.
Este é apenas o terceiro objeto interestelar alguma vez identificado — após ‘Oumuamua’ (2017) e Borisov (2019) — mas distingue-se completamente dos anteriores. Enquanto o primeiro era seco e o segundo rico em monóxido de carbono, o 3I/ATLAS parece não seguir nenhuma das regras conhecidas da física cometária, comportando-se como um híbrido entre cometa e asteroide. Para os astrónomos, o seu estudo é uma oportunidade única para compreender como se formam planetas e sistemas solares noutras galáxias, já que se estima que este corpo tenha 7,5 mil milhões de anos, sendo muito mais antigo do que a própria Terra.
A NASA já confirmou que o cometa atingirá o ponto mais próximo do Sol a 29 de outubro, situando-se a 203 milhões de quilómetros da estrela, e deixará de ser visível por algum tempo antes de reaparecer no final de novembro. Após essa breve reaproximação, o 3I/ATLAS seguirá a sua trajetória rumo ao desconhecido, desaparecendo para sempre do alcance dos telescópios terrestres. Mesmo assim, continuará a ser alvo de monitorização intensiva por parte dos maiores observatórios do mundo.
Apesar de as observações mais recentes confirmarem tratar-se de um objeto natural, teorias alternativas não cessam de surgir. O físico Avi Loeb, da Universidade de Harvard, chegou a sugerir que o cometa poderia ser uma sonda alienígena, tese que foi perdendo força à medida que mais dados científicos foram recolhidos. Ainda assim, muitos investigadores continuam intrigados com as suas propriedades incomuns e com a origem exata deste “viajante cósmico” que parece não obedecer às leis conhecidas da física. O mistério mantém-se — e o 3I/ATLAS promete continuar a surpreender enquanto permanecer ao alcance dos olhos humanos.



